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Condomínio popular vira microusina solar no sertão baiano

 

Projeto piloto apoiado pelo Fundo Socioambiental Caixa gera renda para mil famílias carentes

O sol brilha para todos, mas em Juazeiro, no sertão baiano, a 512 quilômetros de Salvador, ele brilha um pouco mais – acima de 2,8 mil horas por ano. O lugar não poderia ser mais perfeito para a instalação do projeto-piloto que criou a maior usina solar brasileira construída sobre telhados do País.

Parceria entre a Brasil Solair e o Fundo Socioambiental da Caixa, que investiu ali R$ 7 milhões em recursos não reembolsáveis, o projeto de Juazeiro (BA) transformou mil famílias dos condomínios populares vizinhos Morada do Salitre e Praia do Rodeadouro em sócios de um empreendimento que já gerou 1,34 Gigawatt-hora (GWh) de energia solar desde seu início oficial, em março deste ano. É um volume suficiente para alimentar 13,4 mil residências com consumo médio de 100 Kilowatt-hora (kWh).

“O sol brilhou para nós e só tem nos trazido coisa boa. Hoje somos produtores de energia solar”, afirma a dona de casa Gilsa Martins de Oliveira, 55 anos, síndica do condomínio Morada do Salitre, onde a renda das famílias não ultrapassa os três salários mínimos.

“Quanto maior incidência solar, maior geração”, explica o supervisor técnico da Solair, Ricardo Zanirato. Segundo o Átlas Solarimétrico brasileiro, a radiação solar diária no Vale do São Francisco, onde está Juazeiro, é comparável à das regiões mais ensolaradas no mundo – como Dongola, no Sudão, e Dagget, no Deserto de Mojave, na Califórnia.

A microusina de Juazeiro tem potencial de produzir 2,2 Mega Watts (MW), o suficiente para abastecer 3,6 mil domicílios em um ano. Os 1.944 painéis fotovoltaicos instalados nos telhados dos prédios com quatro ou seis apartamentos ocupam uma área equivalente a dois campos de futebol. O sistema também inclui inversores, que transformam a corrente contínua em alternada, utilizada nas casas em geral, e injetam a energia na rede da concessionária. No atual ritmo de faturamento, o investimento se pagará em sete anos, estima a empresa.

A Brasil Solair criou o projeto, treinou mão de obra local e supervisionou a implantação do sistema, conectado à rede da Coelba (distribuidora local) e regulamentado pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). A empresa tem contrato com os condomínios para comercializar a energia gerada no mercado livre, com preços aquecidos atualmente.

De acordo com a empresa, o projeto rendeu mais de R$ 830 mil até o dia 1º de outubro. Dados como este e os de produção estão disponíveis por meio de medidor de energia online que pode ser acessado pelas famílias residentes no condomínio.

De cada R$ 100 de receita da microusina, R$ 60 vão parar diretamente no bolso dos moradores do Salitre e do Rodedouro. Outros R$ 30 vão para um fundo destinado a investimentos para melhorias e benefícios do uso comum, de preferência atividades geradoras de renda, e outros R$ 10 bancam a manutenção das placas fotovoltaicas e da estrutura.

No futuro, a Caixa estuda comprar a energia produzida no volume correspondente ao consumo anual do seu prédio central em Salvador, ocupado por uma agência e pelos escritórios da Superintendência Regional.

Longe de ser uma tendência, a energia solar já é uma realidade no país. O Plano Decenal de Expansão de Energia 2013-2022 incluiu a energia solar na matriz energética brasileira este ano. Segundo o Plano, a projeção é que a capacidade instalada de energia solar chegue a 3,5 mil MW em 2023, o que corresponderá a 1,8% do total. O primeiro leilão exclusivo para energia solar deve ser realizado em 31 de outubro, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).