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Wagner passa governo com roupa de casamento

Ex-governador baiano falou sobre a amizade com Dilma e nova função.
‘Ninguém vai me tolher de puxar sardinha para a Bahia’, disse em discurso.

 
Jaques Wagner e Fátima Mendonça saíram da posse em carro de época (Foto: Ruan Melo/G1)
Jaques Wagner e Fátima Mendonça saíram da posse em carro de época (Foto: Ruan Melo/G1)

Vestido com o terno que usou no casamento com Fátima Mendonça, o agora ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, fez um discurso de agradecimento aos oito anos em que esteve à frente do estado, saudou o Partido de Trabalhadores (PT) e falou sobre a nova função como ministro da Defesa, durante cerimônia de transferência de cargo, realizada no fim da manhã desta quinta-feira (1°). Antes, Rui Costa (PT) foi empossado novo governador da Bahia.

“Em 1988 eu casei com Fatinha com essa roupa. Para mim, é uma simbologia. Quando a gente decidiu se casar, após oito anos de convivência, a gente olhou para o futuro e vimos que tínhamos ainda muito para fazer juntos”, relembrou, todo de branco. “Não é pouca coisa governar o estado-mãe e estado-pai do Brasil. Tudo começou aqui, nossa gente foi fundada na Bahia. Eu, imigrante do Rio de Janeiro, sindicalista, meu nome não estava escrito nos livros de política da Bahia. Mas a gente atravessou, conseguimos conquistar amigos, aliados, partidos que olhavam para a gente com desconfiança”, comentou, quando chorou e ganhou um beijo da ex-primeira-dama.

Ele se negou a fazer balanço de gestão, alegando que o “relatório” de governo foi aprovado pela maioria da população quando Rui Costa foi eleito seu sucessor em primeiro turno. É o terceiro mandato consecutivo do PT no estado.

“Ganhamos três eleições em primeiro turno, não só pela palavra, mas pela coragem que tivemos, nós e meu partido, a quem eu agradeço sempre por ter me permitido ser candidato e acolhido a opção por Rui Costa. Com todas as mazelas, a contribuição do partido para a Bahia e Brasil deixa saldo positivo extremamente grande. É preciso rasgar a fantasia e parar de hipocrisia”, defendeu.

Escolhido por Dilma ministro da Defesa, Wagner falou sobre os desafios e afirmou, em tom de brincadeira, que irá puxar “sardinha para a Bahia”. “Eu irei comandar o ministério a partir de hoje. Vou para algo que habitou a minha alma na infância e juventude, no Colégio Militar do Rio de Janeiro. Vou com orgulho. O ministério não é da guerra, é da defesa. Vamos garantir a soberania do território nacional. Vou para uma nova missão. Ajudar uma mulher a quem admiro profundamente, a minha queridíssima amiga Dilma. Ninguém vai me tolher o direito de puxar brasa para sardinha da Bahia, mas é claro que vou governar para o Brasil inteiro”, comentou.

Em fala direcionada a Rui Costa, Wagner o aconselhou a não guardar rancores e lembrou da militância. “Se puder fazer uma recomendação, eu diria que deixe seu fígado para os bons vinhos e uísques, e não para o rancor. A nossa capacidade de síntese é que vai nos permitir a longevidade do nosso projeto. Quem diria que dois ex-sindicalistas virariam governador. Eu me sinto realizado. Quero agradecer aos sem-nomes, aqueles que não chegaram aqui nessa reunião, mas que estão espalhadas pela Bahia. A militância anônima, apaixonada, guerreira”.

Rui Costa (PT), governador eleito da Bahia, recebe cargo de Jaques Wagner (Foto: Ruan Melo/G1)
Rui Costa (PT), governador eleito da Bahia, recebe cargo de Jaques Wagner (Foto: Ruan Melo/G1)

Posse de Rui
O agora governador da Bahia, Rui Costa (PT), e o vice-governador João Leão (PP), tomaram posse nesta quinta-feira (1°), no Centro Administrativo da Bahia (CAB), sede do governo em Salvador. Rui chegou junto à esposa e filha, e foi recebido pelo presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), o deputado estadual Marcelo Nilo (PDT), por volta das 9h. Costa sucede Jaques Wagner (PT), nomeado ministro da Defesa e que esteve à frente do governo por dois mandatos consecutivos.

Rui Costa (PT), governador eleito da Bahia, no início da cerimônia de posse (Foto: Ruan Melo/G1)
Rui Costa (PT), governador eleito da Bahia, no início da cerimônia de posse (Foto: Ruan Melo/G1)

“Não serei um gerente. Levarei a voz dos baianos, dos nordestinos, ao plano nacional. E, para essa missão, quero convidar todos os prefeitos, deputados, em especial, os federais e os senadores”, disse Rui Costa, em discurso de posse no plenário da Alba, após juramento firmado.

Ele saiu em defesa do maior repasse de verbas federais para os municípios brasileiros “É urgente a revisão do nosso pacto federativo. Os estados e municípios devem ampliar sua capacidade de arrecadação. Não é aceitável o nível de concentração dos recursos no plano federal. Brasília se agiganta a cada dia, a burocracia custa caro e atrasa os investimentos no país”, afirmou.

O senador eleito e atual vice-governador, Otto Alencar, o prefeito de Salvador, ACM Neto, o arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, e políticos como deputados estaduais e federais, além de prefeitos, acompanharam a cerimônia. Jaques Wagner não compareceu à primeira parte do processo de transferência de cargo na Bahia. Ele viaja para Brasília para, à tarde, ser empossado como ministro da Defesa e participar da posse da presidente Dilma Rousseff.

Rui Costa (PT) é empossado novo governador da Bahia (Foto: Carol Garcia/GOVBA)
Rui Costa (PT) é empossado novo governador da Bahia (Foto: Carol Garcia/GOVBA)

Ainda em tom crítico, Rui defendeu  “urgência” da reforma tributária. “Não é possível que o ICMS pago no comércio eletrônico pelos baianos e nordestinos seja apropriado apenas pelo estado de São Paulo”, afirmou, sequenciando com a defesa das mudanças na forma de financiamento da saúde pública do país. “Novas fontes de recursos são imprenscindíveis para que o Sistema Único de Saúde esteja à altura das exigências da nossa gente”.

Costa se emocionou ao citar o pai, Clovis dos Santos, e a sua mãe, Maria Luzia Costa dos Santos. Durante a fala, Rui Costa afirmou que o “fio condutor” de sua administração será a participação, apontando a construção do seu programa ainda nas eleições. “Foi a primeira vez que um programa de governo foi construído pelas mãos da sociedade, representada por organizações sociais, culturais, políticas, religiosas e econômicas dos 27 territórios de identidade do estado da Bahia”, disse.

Rui Costa assume o governo da Bahia após vencer Paulo Souto (DEM) em primeiro turno das eleições, com 54,53% dos votos válidos, ou 3.558.975 votos. A vitória marca a continuidade do PT no governo baiano. Nos últimos oito anos, a Bahia foi governada por Jaques Wagner, do qual Rui Costa foi secretário de estado.