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Agricultoras familiares do sudoeste rompem fronteiras e celebram conquistas

A arte de fazer dos frutos cultivados em suas terras produtos que geram renda e ocupação para milhares de famílias na Bahia tem sido, dia após dia, o desafio e, ao mesmo tempo, a conquista de mulheres que trocam a rotina das tarefas de casa pela riqueza das atividades e oportunidades oferecidas pela agricultura familiar.Trata-se de um grupo, cada vez mais organizado e promissor, de trabalhadoras jovens, adultas e idosas, que rompem fronteiras territoriais e encontram, no ofício da agricultura, motivos para mudar de vida, tornando o empreendedorismo e a presença feminina nas cooperativas e organizações do campo, áreas predominantemente dominada por homens, uma realidade.

Mãe de Franciléia, 14 anos, e Jaine,12, a moradora do município de Manoel Vitorino, Léia Couto Cruz, 33, é um exemplo disso. Desde os 21 anos, ela se dedica à agricultura familiar e, depois de passar por capacitações do Gente de Valor, projeto coordenado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), sente-se satisfeita.

“Estou realizada, porque alcançamos nosso sonho e pudemos transformar o umbu, um fruto de nossa terra que se perdia, em renda. A mulher está dominando, trabalhando mais, entrando no mercado. Antes, ficava em casa. Hoje, ela luta pela igualdade. Ficamos felizes das mulheres estarem conquistando seu próprio espaço, sua renda, e conseguindo o que realmente querem”, disse a agricultora.

Desenvolvimento da cooperativa

Ela conta que, no início, eram apenas 18 pessoas na Cooperativa de Produção e Comercialização dos produtos da Agricultura Familiar do Sudoeste da Bahia (Cooproaf). Hoje, a cooperativa cresceu muito e possui 75 cooperados. As mulheres representam 75% deste total. “Estamos entrando também no mercado do Plano de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Tenho alegria de saber que nosso fruto, que se perdia e o animal comia, hoje, é transformado. O fruto, a árvore sagrada, o ouro da gente, transformamos em derivados do umbu. Isso representa um avanço muito grande”, ressaltou.

Com a produção, mais expressiva no período de safra, de janeiro a março, as mulheres da Coproaf vendem compota de umbu em calda (R$ 7), doce cremoso (R$ 5), geleia de umbu (R$ 6), nego bom (R$ 13 por quilo), doce de umbu em barra (R$ 6), entre outros derivados do fruto. Os produtos chegam ao mercado local de Manoel Vitorino e região que abrange os municípios de Vitória da Conquista, Poções, Jequié, e cidades vizinhas.

Oportunidade de crescimento

Outro exemplo de sucesso incentivado pela agricultura familiar é a jovem Etelvina da Silva, conhecida por Kita, que, inicialmente, atuou no projeto Gente de Valor como Agente de Desenvolvimento Subterritorial (ADS). Ela, hoje, é gerente da agroindústria de beneficiamento de frutas da Coproaf, na comunidade do Espírito Santo, no município de Mirante.

“Foram muitas as vitórias alcançadas e tudo começou na minha vida com a agricultura familiar. O projeto da CAR fez com que eu descobrisse, a cada dia, meu potencial. Atualmente, ocupo o cargo de secretária da cooperativa e presidente da associação do Espírito Santo. Os desafios foram um estímulo para que me interessasse em ter um nível superior. Estou fazendo agora Faculdade de Administração e pretendo estudar para poder gerir cada vez melhor os nossos negócios”.

Assistência técnica

A diretora de políticas territoriais voltadas para a agricultura familiar da SDR, Camila Batista, conta que as mulheres eram tratadas apenas como ajudantes dos maridos e que, tudo o que produziam e os recursos adquiridos, ficavam sempre sob poder do homem. “Foram os programas de assistência técnica que fizeram com que as mulheres passassem a adquirir autonomia econômica. Hoje, estão organizadas em grupos produtivos, trabalham com produtos da agricultura familiar e artesanato”, disse.

Para Camila, além da autonomia econômica e autoestima, as mulheres, que muitas vezes eram agredidas pelos companheiros, passaram a romper o ciclo da violência, por conta da independência financeira. “Essas agricultoras melhoraram também a alimentação familiar, desde o manejo com os alimentos que produzem, até o modo como estruturam esses grupos para produção”.

Criação da SDR

A criação da SDR também é apontada como um fator fundamental para a continuidade e consolidação dos projetos e ações desenvolvidos pelas mulheres dentro dos espaços rurais da Bahia.

Segundo a agricultora Maria de Lourdes Oliveira, 54, que atua na agroindústria da comunidade de Espírito Santo, projetos como Gente de Valor e outros coordenados pela secretaria, através da CAR, impulsionam o trabalho nas comunidades de modo decisivo.

“A intervenção do Gente de Valor, em parceria com o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), que acreditou em nós, foi tudo. Participamos de capacitações aqui na região e fazemos doces e merenda até para as escolas, porque nossos produtos são de qualidade”, contou satisfeita Maria de Lourdes.