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Cuidado com o golpe dos R$600 mil de honorários!

“Hoje meu texto vai ser direcionado aos advogados iniciantes.

Segunda-feira (03 de julho), voltei do escritório já tarde e abri meu e-mail para conferir se havia alguma urgência a ser resolvida.

Para a minha surpresa, tinha um e-mail com o título “proposta”, e, então, eu o abri. Eis o que estava escrito: (copiei e colei, por isso dos erros de português).

Olá meu nome é XXXXXXXXXXXXXXX e sou jogador de futebol e tenho uma proposta para jogar na EUROPA só que o pessoal quer que eu tenha alguém para intermediar a negociação então um amigo meu indicou o senhor ai queria ver se pode me ajudar meu telefone é XX xxxxxxxxxxx. Ai segue meu Cv e uma copia do documento que o pessoal deixou para mim.

Junto ao e-mail, ele mandou o currículo com supostos clubes (famosos) que teria jogado, inclusive citando vários campeonatos em que foi artilheiro. Até pensei comigo: “bem que esse cara podia vir pro meu Corinthians!” hahaha

Bom, além do currículo, ele me mandou um documento digitalizado com a suposta proposta recebida, com timbre da empresa e com nomes dos supostos dirigentes interessados:

 

Fiz uma conta simples: 800 mil euros a R$3,75 dá R$3 milhões de reais. 20% de honorários, R$600 mil. Nada mal para uma segunda-feira, não? Hahahahah

Pois bem!

Liguei então para o jogador, e ele me disse que um amigo havia me indicado para ele.

Fiquei surpreso, pois Direito Desportivo não é minha área de atuação. Mas, como que eu ia negar R$600 mil de honorários? Kkkkkkkkkkkk

Achei estranho a proposta ser de 2016 e questionei o jogador se estava vigente. Então, ele me explicou: “Doutor, eu estava jogando no xxxxxxxxxx (time famoso do interior paulista) e fui disputar um campeonato na Europa. Daí fui o artilheiro da Copa xxxxxx (pensa num matador? É ele! Artilheiro de tudo! Melhor que o Túlio Maravilha) e o pessoal foi conversar com o clube. Mas o clube cresceu o olho e aumentou meu preço, então o pessoal da Europa desistiu de me contratar. Agora, que se encerrou meu contrato, já posso negociar.”

Tentei lembrar de quem eu tinha de contato na área que poderia ter me indicado (a ligação com o suposto jogador estava muito ruim, e não deu pra entender quando eu perguntei quem me indicou).

Lembrei de um cara que conheci ano passado, também novinho, mais ou menos da idade desse suposto jogador, e esse cara, hoje, está jogando num clube dos EUA. Pela idade e pelo perfil, imaginei que fosse indicação dele.

Enfim, dei prosseguimento.

Daí hoje, terça-feira, entrei em contato com um parceiro que teria como me ajudar nessa demanda. Como sabem, comecei a advogar na Tibúrcio Advogados, escritório do ex-presidente da OAB-GO, e fiz boas amizades lá.

Marquei a reunião com o Dr. Flávio Tibúrcio e com meu amigo de infância, que também trabalha lá, Dr. Luiz Antônio Lorena, e fomos analisar tudo para atender bem o suposto jogador de futebol.

Nesse meio tempo, o suposto agente que queria contratá-lo entrou em contato comigo. Mandou e-mails numa mistura de portuñol com inglês e também começou a me mandar mensagens no Whatsapp (telefone começava com +1 (351) ), dizendo que precisava da cópia do passaporte meu e do jogador, a declaração de cidadania do jogador, dentre outros documentos.

Pesquisando no site da FIFA, o suposto agente era, de fato, registrado na entidade.

Ele disse, ainda, que eu deveria mandar um fax para a Confederação Belga até às 22h de hoje, pois, caso contrário, não daria pra inscrever o jogador na copa que ele iria disputar. (detalhe: ele errou no fuso horário)

Continuou dizendo que estava na Índia, e que o sistema de telefonia estava muito ruim e não conseguia me ligar. Portanto, só dava pra falar via Whatsapp e E-mail.

Ele queria já marcar um jantar em Brasília, quinta-feira agora, e na sexta-feira definir os termos do contrato, e na semana que vem o jogador faria exames físicos, e sendo aprovado, assinaria o contrato e já nos pagava (tá fácil ganhar dinheiro kkkkkkkkkkkkk).

Então, o “artilheiro matador” foi no consulado na cidade dele e disse que tinha uma taxa de R$1.600,00 a ser paga para liberar o documento. Me mandou foto do documento, com timbre e tudo mais. Mas dava para perceber que alguma coisa estava estranha.

Ele me falou que o clube do interior de SP não estava pagando os salários, e que ele não teria condições de pagar esses R$1.600,00 pelo documento, e sem o documento o agente já tinha me informado que não haveria chances de se concretizar a negociação.

Bom, até então, não tinha nenhum documento com o CPF e RG dele, e no Google, pesquisando a lista de times e campeonatos que ele alega ter sido artilheiro, não achamos absolutamente nada.

Pedi para ele me mandar foto pelo Whatsapp do CPF e RG para que eu já providenciasse as certidões negativas, bem como os contratos e pedi um contato no time do interior de SP para que eu pegasse uma cópia do contrato que já facilitaria as questões por aqui, e que, posteriormente, faria a transferência do dinheiro para que ele pegasse o documento (isso já foi uma estratégia combinada para desmascarar o golpe).

Curiosamente, a ligação caiu, o agente que estava na Índia desligou a internet e os dois sumiram.

Portanto, colega advogado, cuidado quando aparecer uma proposta muito boa “do nada”. Sabemos o quanto é difícil ser bem-sucedido na advocacia, e situações mirabolantes como essa, via de regra, são golpes!

Até a próxima!”

Sérgio Merola é advogado formado pela Universidade Salgado de Oliveira em 2009; inscrito na OAB/GO nº 44.693; Membro da Comissão de Direito do Trabalho da OAB-GO; Pós-Graduando em Direito Público pela Universidade Cândido Mendes; Atuou por 2 anos junto ao escritório Tibúrcio Advogados, do Ex-Presidente da OAB/GO, Dr. Henrique Tibúrcio. Atua na área de Direito Trabalhista, em demandas judiciais e assessorias jurídicas para pequenas e médias empresas, e Direito Previdenciário; Atua, também, na área de Direito Administrativo, em Processos Administrativo, Licitações/Contratos Administrativo, Assessoria para o Terceiro Setor e demandas de Servidores Públicos e/ou aprovados em Concursos Públicos; Blog: sergiomerola.com Fonte: Jusbrasil