Vacinação contra o HPV: níveis preocupantes
Apesar de 80% das adolescentes da região terem acesso à imunização, adesão à vacina não para de cair
O vírus do HPV é um dos principais fatores no desenvolvimento de várias enfermidades, especialmente o câncer do colo do útero – que representa 84% dos casos da doença relacionados ao vírus. Nos últimos anos, diversas políticas públicas aumentaram a disponibilidade da vacina contra o HPV na América Latina visando mudar esse cenário, mas as taxas de adesão na região permaneceram muito abaixo do esperado. Essa é a conclusão de um estudo conduzido por integrantes da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), publicado na revista Cancer, da American Cancer Society.
“Atualmente, 80% das adolescentes da América Latina têm acesso à vacina contra o HPV a partir de programas públicos de imunização. Porém, apesar do alto potencial de alcance, as taxas de adesão na região caíram a uma velocidade alarmante nos últimos anos. A Colômbia, por exemplo, tinha, em 2013, a segunda maior taxa de jovens vacinadas no mundo, com 97,5%. Em 2014, o número já estava na casa dos 20%. Essa é uma diminuição na adesão a vacinas nunca antes vista na história”, diz a Dra. Angélica Nogueira, oncologista membro da SBOC e presidente do EVA, Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos.
No Brasil, a situação também é uma das mais preocupantes. Apesar de a vacina estar disponível tanto para meninas quanto para meninos, menos da metade do público-alvo foi imunizado até março do ano passado. Segundo dados apurados junto ao Ministério da Saúde, a cobertura por meio de vacina com uma dose registrou uma redução dramática de 23% em apenas um ano – de 92% da população-alvo entre 2014 e 2015 para 69,5% em março de 2016. Quando considerada a segunda dose, a taxa cai para pouco mais de 43%.
Além disso, o estudo também identificou padrões regionais relevantes no que se refere à adesão da população. Nas áreas mais desenvolvidas do país, as taxas de vacinação contra o papilomavírus humanos são maiores, enquanto os locais nos quais a incidência de câncer de colo de útero é historicamente maior apresentam penetração consideravelmente menor. Alagoas, por exemplo, Estado onde o câncer de colo de útero causado pelo HPV permanece como o principal tumor em mulheres, apresentou uma cobertura da primeira dose de apenas 21,5% da população-alvo.
De acordo com os autores do estudo, a preocupação com a segurança da vacina, o desconhecimento sobre as doenças relacionadas ao HPV e estigma existente por ser um vírus transmitido sexualmente estão entre os principais motivos para a queda nos níveis de imunização da população. Além disso, no Brasil, o Ministério da Saúde atribui a queda, em grande parte, ao fato de muitas escolas terem deixado de se envolver com a questão.
“O câncer de colo de útero é o terceiro tumor mais frequente na população feminina, atrás do câncer de mama e do colorretal, e a quarta causa de morte de mulheres por câncer no Brasil. A alta incidência da doença é um contrassenso, pois este é um tipo de tumor evitável por meio da vacina. É essencial que as escolas, pediatras, ginecologistas, clínicos e oncologistas façam sua parte e divulguem a importância da vacinação na faixa etária adequada e a segurança da vacina”, diz a Dra. Angélica Nogueira.