Cuidados com a Covid-19 devem continuar após a vacinação
Especialistas recomendam uso de máscaras e isolamento social até que se atinja imunidade coletiva
Com a aprovação das vacinas contra a Covid-19 pela Anvisa, brasileiros têm esperanças renovadas de tudo voltar a ser como antes da pandemia; com abraços apertados, reencontros entre amigos e familiares, além poder sair de casa sem máscara.
Segundo a epidemiologista da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Ethel Maciel, Isabella tem razão. Em entrevista exclusiva ao portal Brasil61.com, a especialista afirma que, mesmo com o início da vacinação contra a Covid-19, é preciso que 70% da população esteja vacinada, para atingir a chamada imunidade de rebanho – o que pode demorar. “2021 vai ser um ano que ainda vamos utilizar máscara, vai precisar fazer distanciamento físico. Álcool em gel e a lavagem das mãos vão ser nossos aliados”, recomenda.
A professora titular do Instituto de Ciências Biológicas, da Universidade de Brasília (UnB), Anamelia Lorenzetti Bocca, explica que nenhuma vacina apresentou 100% de proteção na população testada, até o momento. “Isso significa que uma parte das pessoas, que vão receber a vacina, vai ser capaz de transmitir o vírus para outras pessoas. Por isso, mesmo tomando a vacina, precisamos continuar usando máscaras”. No entanto, baseada nos testes clínicos da fase 3, a professora ressalta que as pessoas que tomarem a vacina, e ainda ficarem doentes, terão sintomas clínicos muito mais brandos.
Início da vacinação no Brasil
No último domingo (17), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária aprovou o uso emergencial da Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan, em parceria com a chinesa Sinovac, e da vacina de Oxford, desenvolvida em parceria com a Fiocruz. Na segunda-feira (18), o Ministério da Saúde deu início à distribuição das doses de forma proporcional e simultânea para todos os estados brasileiros.
Segundo a pasta, na fase 1 da campanha de vacinação, serão imunizados os grupos prioritários, compostos por trabalhadores da saúde; idosos institucionalizados, com 60 anos ou mais; pessoas com deficiência institucionalizadas e população indígena que vive em aldeia. Desses, 337.332 estão na Região Norte, 683.942 na Região Nordeste, 1.202.090 na Região Sudeste, 357.821 na Região Sul e 273.393 na Região Centro-Oeste.
Nessa primeira etapa, a Região Norte vai receber 708.440 doses, Região Nordeste 1.436.160, Região Sudeste 2.524.360, Região Sul 751.440 e Região Centro-Oeste vai receber 574.160 doses.
O pneumologista e diretor da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, Hermano Castro, ressalta a importância da aprovação das vacinas no Brasil e afirma que o dia a dia dos brasileiros só deve voltar ao normal, quando boa parte da população for imunizada, o que não vai acontecer em curto prazo. “Não é para relaxar, não é parar liberar atividades com aglomerações, que aumentem o risco de contágio pelo coronavírus. Provavelmente, uma vida normal até o final do ano, mesmo com a vacina, ainda não teremos. Depende da velocidade com que o Brasil conseguirá vacinar toda a sua população”, comenta.
De acordo com o pneumologista Hermano Castro, a resposta imunológica do organismo humano depende do tipo de vacina. No caso de imunizantes que possuem duas doses, a primeira já confere uma certa imunidade e a segunda potencializa a resposta imunológica. Ele destaca a continuação do monitoramento das pessoas vacinadas – a chamada fase 4.
“Não sabemos ainda quanto tempo vamos continuar a produzir anticorpos. Não sabemos como será o nível de resposta das células de memória. Ou seja, uma vez vacinado, entrando em contato com o vírus, essa memória vai ser ativada imediatamente com a produção de anticorpos para combater o vírus? São perguntas que a gente ainda não tem a resposta”, afirma. O monitoramento dos vacinados vai contribuir para o desenvolvimento de pesquisas, para que a comunidade científica possa compreender o funcionamento do coronavírus e melhorar a vacinação.
O pneumologista da Fiocruz também destaca as inúmeras variantes do coronavírus, com diferente potencial de contaminação e adoecimento. Confira no link uma entrevista exclusiva sobre o assunto, com a epidemiologista Ethel Maciel.
Reportagem: Paloma Custódio, Lincoln Freitas, Luciana Bueno e Fabrício Lázaro. Fonte: Brasil 61