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Meteorito assusta e fere pessoas na Rússia


Por Ulisses Capozzoli

Bólido que atingiu a cidade de Tcheliabinsk, a sudeste de Moscou, junto à fronteira com o Cazaquistão liberou onda de choque que produziu destruição e feridos. Céu se iluminou com bola de fogo gerada pelo atrito com a atmosfera.

O meteorito que caiu nas proximidades da cidade russa de Tcheliabinsk ─ a sudoeste de Moscou próximo à fronteira com o Cazaquistão na manhã de hoje (15/02) 1h20 horário de Brasília ─ assustou a população local e segundo informações russas deixou centenas de feridos.

         Quedas de meteoritos, como o que atingiu Tcheliabinsk, são incomuns, mas podem espalhar confusão e desentendimento, além de temor generalizado.

         As primeiras informações diziam que muitas pessoas foram feridas por estilhaços de vidro, o que deve ter intrigado muita gente.

         Por que vidro?

         Porque a onda de choque provocada pela entrada do bólido na atmosfera se espalha como o efeito de uma bomba e destrói, por deslocamento de ar, janelas e vidraças. E o que feriu as pessoas foram esses estilhaços.

         O mesmo deslocamento de ar fez desabar a estrutura metálica de uma construção e pode ter produzido outros danos ainda não dimensionados na região.

         Os dados dipsoníveis ainda no início desta manhã (horário de Brasília) falavam em 750 pessoas que tiveram assistência médica, das quais 31 foram hospitalizadas. Esses feridos podem estar aumentando neste momento, à medida que mais pessoas procuram hospitais e pronto-socorros.

         O bólido, segundo um despacho do jornal New York Times tinha massa de 10 toneladas, o que sugere um corpo do porte de um ônibus de pequeno porte.

         Uma conclusão evidente é que o meteorito era rochoso e não metálico, pois explodiu na atmosfera numa altitude que está sendo estimada entre 30 km e 50 km. Se fosse um corpo metálico como o Bendengó, o mais famoso meteorito encontrado no Brasil (exposto no Museu Nacional, no Rio de Janeiro) teria chegado intacto ao solo.

         Testemunhas que observaram o fenômeno na Rússia relataram uma bola de fogo de intensa luminosidade no céu, o que é absolutamente consistente com a entrada de um meteoróide na atmosfera.

 Confusão de nomes

Meteoróide é o nome que se dá a um corpo no espaço que, penetrando a atmosfera, produz um rastro luminoso (mais ou menos intenso, dependendo de sua massa) e que, se sobreviver ao atrito, atinge a superfície da Terra como um meteorito.

         “Estrelas cadentes” são um exemplo comum disso, com a diferença que, nesses casos, os corpos que penetram a atmosfera têm o porte de um grão de arroz ou de milho. Um corpo um pouco maior produz um “sussurro” além da luminosidade e um maior ainda um silvo que lembra o projétil de um canhão.  Um ainda maior produz a explosão observada na Rússia.

         O meteorito de Tcheliabinsk, como certamente ficará conhecido, tem relação com o asteróide 2012 DA14 que no final da tarde de hoje (17h25 de Brasília) atinge sua máxima aproximação da Terra num sobrevôo rasante que o coloca no interior do anel de satélites geoestacionários (que permanecem sobre um ponto fixo da superfície da Terra, embora estejam se deslocando em torno do planeta)?

         Em princípio isso seria possível, como inicialmente especulou o físico ruso Aleksandr Y. Dudorov da Universidade Estadual de Chelyabinsk.

         Mas dados mais recentes, liberados pela agência espacial americana (Nasa) dão conta de que se trata de dois corpos independentes, com rotas distintas.

         Para deduzir essa informação os especialistas analisaram o ângulo de entrada do meteorito na atmosfera e uma das fontes de informação para esse tipo de dedução pode ter sido satélites de vigilância militares. Entre outras razões porque o bólido caiu numa região importante em termos de armamento nuclear soviético, nos Montes Urais.

Pergunta sem resposta

Que reação teria sido adotada num caso desses, durante a Guerra Fria, o enfrentamento tenso que opôs especialmente Estados Unidos e a então União Soviética ao final da Segunda Guerra Mundial.

         Nunca saberemos a resposta a uma pergunta como essa mas, mesmo à distância, no tempo, ela soa profundamente preocupante.

         Pesquisadores russos, a bordo de aviões e com equipes em terra continuam investigando a área onde os detritos do meteorito caíram, em busca de uma possível cratera.

         A administração de Chelyabinsk chegou a informar que uma equipe teria encontrado uma dessas formações a 50 km de distância de cidade, mas ainda é cedo para qualquer conclusão neste sentido.

O bólido explodiu na atmosfera e se espalhou, segundo sugerem os relatos, mas um bloco maior pode ter sobrevivido e produzido uma cratera.

         Testemunhas da entrada do bólido na atmosfera relataram a forte explosão, além da intensa luminosidade e uma cena dessas seguramente é de fato impressionante. Analisada friamente, no entanto, são todas manifestações de efeitos naturais produzidas por um corpo que penetrou a atmosfera.

         Asteróides e corpos de menor porte, como o que caiu em Tcheliabinsk são remanescentes, uma espécie de entulho cósmico, do que sobrou da formação do Sistema Solar há 5 bilhões de anos.

         Entre Marte e Júpiter, onde teoricamente poderia existir um planeta, há um cinturão de asteróides, impedidos de se aglutinarem num único corpo pelo poderoso efeito gravitacional de Júpiter.

Com freqüência, choques entre essa corrente de corpos faz com que, como num bilhar cósmico, muitos sejam desviados para um órbita interna, o que leva muitos a penetrar a órbita da Terra, em torno do Sol.

         Asteróides são justamente temidos pelo choque que podem ter com a superfície da Terra (muitos já ocorreram no passado e poderão ocorrer no futuro se não formos capazes de armar um sistema de detecção e desvios dos que se encontrem em rota ameaçadora).

         Mas, ironicamente, nós, humanos, devemos nossa presença na Terra a um deles. O bólido que há 65 milhões de anos pos fim ao longo reinado dos dinossauros abriu espaço para a evolução dos mamíferos, a grande família de que somos parte.