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Um dia perfeito na Antártida



 

Este, com certeza, foi um dos melhores dias da minha vida!

Foi um dia perfeito, em um dos lugares mais inóspitos e lindos da terra. Estou falando da Antártida, o continente gelado.
Neste dia, acordei às seis da manhã e ao olhar para fora da cabine, me deparei com um enorme iceberg passando pela janela. Achei que era um sonho. Na verdade era, um sonho realizado. Mais um! Estava a bordo o MS Fram, um navio de bandeira norueguesa, especializado em viagens aos extremos da Terra. No meu caso, a viagem era para a Antártida, o continente gelado no extremo sul do nosso planeta. Estamos em uma expedição de 10 dias que começou em Ushuaia (Argentina) e continuou através do Estreito de Drake em direção sul. O estreito corresponde à faixa do oceano que liga o extremo sul do continente americano com a península Antártida e tem quase mil quilômetros de largura.

Aqui se encontram três oceanos: Pacífico, Atlântico e Antártico.  Este último, circunda o continente e é rico em Plâncton, a base alimentar de muitas espécies. Esta abundância de alimento é refletida claramente na quantidade e diversidade de animais que habitam a Antártica. Um bom exemplo disto são os pinguins. Das 17 espécies conhecidas, a grande maioria habita ou se reproduz na Antártida.  Na península, as espécies mais comuns são os pinguins Papúa (ou gentoo), de Barbicha e Adélia. Todos os verões eles se reúnem em grandes colônias para se reproduzir e se preparar para enfrentar o seguinte inverno.  Durante os primeiros dias de nossa viagem pudemos caminhar por entre milhares destas simpáticas aves aquáticas e seus gorduchos filhotes. 

Voltando a meu dia perfeito, ele continuou muito bem obrigado. Além do amanhecer em meio aos icebergs, o alto-falante do navio logo nos alertou sobre a presença de baleias. Subimos para o deck externo e nos deparamos com dezenas delas. Eram baleias das espécies Jubarte, também conhecidas como corcundas, e da espécie Mink. Durante várias décadas, a caça as baleias foi intensiva na Antártida, a ponto de levar algumas espécies à beira da extinção. Com a proibição da pesca estabelecida em 1986 por quase todos os países do mundo, estes cetáceos voltaram a nadar livremente pelos oceanos e sua população voltou a crescer. Na península Antártida elas nadam tranquilas e são muito curiosas. Algumas se aventuram bem perto do navio, exibindo seus corpos majestosos e uma sutileza impressionante para um animal tão grande. 

Durante o período que passamos na Antártida, nosso navio fez sempre duas paradas por dia. Nelas desembarcamos em pequenos botes para explorar a terra. Neste dia em especial, conhecemos dois lugares maravilhosos. Um deles foi Neko Harbor. Trata-se de um pequeno porto natural situado na Paradise Bay (Baía Paraíso). Um nome que faz jus a beleza do lugar. Fomos recebidos ainda na praia por uma comitiva de pingüins Papúa. Seguimos então os simpáticos habitantes e fomos conhecendo as diversas partes da colônia, inclusive o berçário. Ali os filhotes ficam concentrados até estarem prontos para nadar e se alimentar por conta própria.

Enquanto isto, eles são cuidados por ambos os pais, que se revezam alimentando seus pimpolhos. Na época de nossa viagem (Fevereiro), eles já estavam bem gorduchos e trocando de pena. Impressionante como estão sempre famintos! Subimos então para um dos mirantes naturais deste porto. Do alto, observamos que Paradise bay está cercada por dezenas de glaciares, línguas de gelo que descem das montanhas em direção ao mar. São destes glaciares que se desprendem os icebergs, imensas ilhas geladas que flutuam por meses ou até anos nas águas antárticas. Muitos deles servem também de abrigo e área de descanso para pingüins, focas de Weddell e focas leopardo, esta última, o principal predador dos pinguins.

Mas o nosso dia não havia terminado. Depois de Neko Harbor e de um delicioso almoço, desembarcamos novamente. Fomos conhecer Port Lockroy, a primeira base britânica na Antártida, fundada no inicio da Segunda Guerra Mundial. Hoje ela está desativada e é conservada por uma entidade não governamental que cuida da preservação de monumentos históricos na Antártida. A base transformada em museu exibe acomodações e objetos usados há mais de 70 anos pelos primeiros habitantes provisórios deste continente. Digo provisório, pois a Antártida é o único continente sem habitantes permanentes. Cerca de 4.000 cientistas passam o verão por aqui e menos de mil, permanecem durante o inverno. Porém, mesmo que passam um ano no continente, são considerados apenas visitantes.

A Antártida é um continente sem dono e sem governo, mas não sem controle. O Tratado Antártico, assinado atualmente por  48 países, estabelece regras sobre permanência, atividades e conservação do continente.  Atualmente são permitidos apenas atividades turísticas e científicas com fins pacíficos. Apesar disto, muitos países ainda têm pretensões territoriais sobre a Antártida. A Inglaterra é um deles e estabeleceu em Port Lockroy um correio oficial britânico (Post Office). Daqui pode-se enviar cartas para qualquer lugar do planeta por apenas um dólar. Outra curiosidade é que  Port Lockroy é um dos poucos lugares onde se pode comprar souvenir na Antártida. Uma pequena loja vende produtos com a marca do porto e reverte os fundos para a conservação do lugar.

Bem, como vocês viram o dia foi bem intenso, porém ainda não terminou. Logo após o jantar, subimos a deck aberto para ver o lindo por do sol, um dos mais belos que já vi. Cercados de tamanha beleza, fomos surpreendidos pela presença de baleias, desta vez, bem em frente ao navio. Pudemos ver bem de pertinho, três baleias Jubarte caçando. Do fundo, elas soltavam bolhas de ar e depois nadavam em circulo confundindo os peixes. Em seguida, emergiam de boca aberta e abocanhavam as presas. Depois, mergulhavam novamente mostrando o imenso corpo e a calda em “V”.  Presenciar este momento  encerrou com chave de ouro este dia tão especial. Um daqueles que não esquecerei jamais. Espero que um dia você também tenha a oportunidade de conhecer este continente. Um lugar onde a natureza ainda está intocada e a vida segue seu ciclo sem a interferência do homem moderno.


Peter Goldschmidt
* Peter é membro da Família Goldschmidt que desde 1999 viaja pelo mundo descobrindo e divulgando novos roteiros turísticos. É também diretor da agência de turismo Gold Trip – Para saber mais entre em contato conosco através do site da Gold Trip – www.goldtrip.com.br  –   Fone: (11) 4411-8254