Viver para ter e viver para ser
G. C. Britto (engo civil e sanitarista) gutembergcbritto@gmail.com
Viver é desenvolver a arte contínua para construir a felicidade. Que é a felicidade? A resposta é relativa, depende de cada um de nós, pois não somos iguais. O ambiente material que nos envolve é que vai determinar a nossa forma de pensar e que, por isso, vai possibilitar a resposta adequada. Como dizia José Ortega y Gasset, “eu sou eu e minhas circunstâncias”. Vamos, por praticidade, substituir a abordagem do indivíduo, pela classe social a que pertence e considerá-la como o seu universo de referência. Assim procedendo, parece-nos mais fácil entender o assunto.
Vamos considerar a existência de três classes sociais: a rica, a pobre e a média. A rica sempre deteve a propriedade dos meios de produção, de comunicação e de informação. Ela fixa as diretrizes para as outras classes sociais, através de leis, normas e condutas, preservando os seus interesses, ad extremum. Essa classe social, pelo que a história nos ensina, não costuma abrir concessõesde absolutamente nada para ninguém. Todas as conquistas materiais e sociais efetuadas pelas outras classes, ensejaram grandes contendas, às vezes, culminando em guerras civis. Essa classe social vive unicamente para acumular patrimônio. São seus valores: ostentação, luxo e riqueza. Suas ambições intelectuais, em regra, são as determinadas por esse seu universo. No entanto, a cultura de um povo, no essencial, tem sido estabelecida por ela, que o governa, desde tempos imemoriais.
A pobreza subjuga a classe pobre e a desclassifica. Vive do trabalho sempre mal remunerado, do dia a dia. Por isso, necessita, regularmente, de subsídio do Estado para ser incluída no mercado de consumo. Esse auxílio se concretiza sob forma de educação, saúde e infraestrutura. Em face da escassez permanente de recursos, o desejo dessa classe é o de tê-los, sempre. Em consequência, o seu espelho são os valores da classe rica. O carnavalesco Joãozinho Trinta, ficou famoso, ao acertar em cheio, com a sua definição lapidar: “pobre gosta de luxo e riqueza, quem gosta de pobreza é intelectual”.
Agora, a classe das transformações sociais. Por diversas vezes, ao longo da história, a classe média subtraiu poderes da classe rica para efetuar mudanças gerais na sociedade, desde a economia à cultura. Tratam-se de mudanças qualitativas radicais, que culminaram com revoluçõesmuito significativas para a humanidade:a americana em 1776, a francesa em 1789, a russa em 1917, a brasileira em 1930, a chinesa em 1949 e a cubana em 1959. Prevalece nessa classe social a susceptibilidade para cultivar valores como: liberdade, solidariedade, justiça social e nacionalismo. Nessa classe social não é incomum encontrar componentes propensos a perseguir uma vida feliz e pacífica, em substituição à corrida para acumular patrimônio. Contentam-se com o suficiente para manter sobrevivência com dignidade.