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Oposição ou ódio?

 

 
                                                         João Baptista Herkenhoff
          As divergências políticas são normais, constituem sinal de Democracia.
          Só nas ditaduras vigora o pensamento único.
          O choque de opiniões aprimora o regime democrático.
          De minha parte, não pretendo estar livre de críticas. Muito pelo contrário, as críticas me honram.
          O clima de debates, no Brasil de hoje, deve ser motivo de contentamento. No período ditatorial, inaugurado pelo Golpe de 1964, quem discordava era preso, algumas vezes torturado, assassinado, jogado em alto mar para alimentar os peixes.
Muitos patrícios, hoje figuras históricas, tiveram de procurar asilo em países que abriram suas portas para os divergentes brasileiros.
A ordem era esta: “Brasil, ame-o ou deixe-o”.
          Não se confunda a sadia opinião, qualquer que seja, com o nefasto ódio.
          Percebo hoje, em nosso país, um clima de ódio que se mistura com a desejável manifestação democrática.
          Mesmo dentro de uma família, ou de um clube, ou de uma associação religiosa, entre vizinhos, pessoas não se contêm e o ódio explode com virulência.
          Nas redes sociais, a palavra de discordância é substituída pelas ofensas pessoais: “quem pensa diferente é canalha”.
          Neste momento da vida nacional, uma leitura da Quaresma é apropriada. Trata-se do sublime episódio de Madalena, uma pecadora pública que estava para ser apedrejada.
          Jesus Cristo foi escrevendo no chão os pecados ocultos dos apedrejadores. E cada um, quando via seu pecado revelado, deixava a pedra cair ao solo e se afastava.
          Depois que todos se retiraram o Cristo perguntou a Madalena: “Onde estão os que te condenavam?”
Ela respondeu humildemente: “”Eles se foram, Senhor.”
Jesus concluiu: “Pois bem. Eles não te condenaram. Eu também não te condeno. Vá e não tornes a pecar.”
A boa interpretação do episódio bíblico não se limita a entender que só cabe o gesto de Jesus à face do pecado de adultério. A mensagem é bem mais ampla, segundo autorizados hermeneutas. Madalena representa a imperfeição humana: somos de barro, tudo o mais é hipocrisia.
          Todos os que pretendem hoje o apedrejamento são puros, são vestais? Não há crimes e pecados escondidos? Nosso país está neste momento dividido entre homens de bem que apedrejam e corruptos que são pisoteados?
          Não conviria, para o bem do Brasil, refrear a fúria quase sanguinária?
          Mesmo entre os que se opõem ao poder dominante, ouço vozes sensatas e prudentes que não torcem pelo pior. Estas vozes de opositores equilibrados merecem admiração.
João Baptista Herkenhoff, Juiz de Direito aposentado (ES) e escritor.