Crônica da Semana: “A prisão de pensamentos” por Nilson Lattari
O pensamento é uma forma de prisão.
A afirmação pode parecer contundente, despropositada, oportunista. Ela pode ser tudo isso, e sim, ela pode ser tudo isso.
Andar na contramão dos outros, pensar diferente em uma roda de amigos, ouvir conversas e aquela vontade de intervir, dizer que não é bem isso.
Confessar que não se sabe muito sobre o assunto.
Mas, seguramente, quando ouvir o que não faz nenhum sentido torna os nossos pensamentos grades onde nos confinamos.
É doce a liberdade de saber.
Mas existe uma inveja em não saber nada, viver dos próprios pensamentos e conclusões e a partir do momento que perdemos tempo em nossas vidas para aprender, em vez de nos dar liberdade de entender o mundo, nos tornamos prisioneiros em buscar o sentido que o mundo deveria ter e não tem.
Entender o mundo é uma tentativa vã de causar um desentendimento dentro de nós mesmos.
Este desentendimento se traduz quando nos sentimos deslocados e nos confinamos em uma bolha, achando que estamos livres, mas estamos presos dentro de nós mesmos.
O mundo, hoje, é aberto a qualquer tipo de pensamento, o livre pensar faz parte do princípio de liberdade dos povos.
Depois de tantas lutas, e quando, finalmente, o mundo pode se comunicar por inteiro, nós nos perguntamos: O que fizemos da liberdade que conseguimos?
A liberdade é doce, mas precisamos, algumas vezes, fazer dieta.
Torna-se, muitas vezes perigoso demonstrar um pensamento que traz coerência para nós e deveria fazer sentido para muitos.
Mas a coerência também perdeu a batalha e, assim como a liberdade, cada um tem a sua.
Sentido
A prisão dos pensamentos só faz sentido para os prisioneiros.
Há um isolamento espontâneo, procurado, porque, assim como no mito da caverna, é mais confortável acreditar nas sombras e aceitar o sentido que elas nos dão do que sair e encontrar a luz.
A escuridão traz o conforto e o sono, a luz traz a obrigação de ver, sentir e sofrer com ela.
A luz do sol nos traz calor e queimaduras, e nenhuma sombra para abrigar. Haverá coerência em sofrer para viver sob o sol?
A questão é que o prisioneiro faz perguntas para tentar sair da prisão, e os livres querem as respostas, desde que não precisem sair na luz do sol.