Bahia sedia III Seminário Nacional de Alternativas Penais

Iniciado nesta quarta-feira, 03/09, o encontro debate alternativas ao encarceramento e dignidade no sistema prisional 

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) sedia o “III Seminário Nacional de Alternativas Penais: perspectivas à luz do Plano Pena Justa”, iniciado na manhã desta quarta-feira (3), em Salvador.

O encontro reúne autoridades, operadores do direito, representantes da sociedade civil e familiares de pessoas privadas de liberdade, com programação até sexta-feira (5).

Realizado pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), o evento tem o objetivo de debater melhorias no sistema penal brasileiro, tendo em vista a ampliação e qualificação das alternativas penais.

O seminário destacou o histórico da política de alternativas penais, que busca reduzir a dependência do encarceramento como resposta a conflitos e delitos de menor potencial ofensivo; os avanços normativos recentes, como o ‘Plano Pena Justa’; e a necessidade de superar o paradigma do encarceramento em massa; promovendo políticas mais humanas, eficientes e equitativas.

A primeira mesa de discussão, intitulada “Racionalização penal e acesso à justiça como mecanismo de promoção de um sistema prisional equitativo”, teve como palestrantes o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Felipe Freitas, e a secretária-geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Adriana Alves dos Santos Cruz, com mediação da socióloga Jamile dos Santos Carvalho.

O secretário Felipe Freitas destacou a necessidade de mudança na cultura da punição, pela ineficiência dos resultados e uma racionalização que se paute em fatos.  

“É preciso ter coragem e ousadia, porque nossas escolhas dos últimos 40 anos do enfrentamento à criminalidade no Brasil não foram eficazes.

Nós intensificamos o volume do confronto letal de agentes de Estado com as pessoas que vivem nas comunidades populares e nós temos mais pessoas, maior organização do crime organizado, maior presença do crime dentro do sistema prisional e maior sensação de insegurança nas comunidades.

Logo, estamos falando de um modelo que não funciona”.

Freitas destacou também o papel do Programa Bahia pela Paz, no apoio à ressocialização das pessoas egressas do sistema prisional, por meio dos Coletivos Bahia pela Paz, equipamentos públicos que têm o objetivo de acolher e acompanhar jovens em situação de risco e vulnerabilidade e, entre os seus públicos, pessoas que cumprem penas alternativas.

Em consonância com a ideia de uma mudança cultural no modo de pensar o sistema de punição, a Secretária Geral do CNJ, Adriana Alves dos Santos Cruz, abordou a necessidade de formação dos operadores do direito, para evitar a seletividade no momento de definir a pena.

“É preciso uma formação forte em cidadania, desde o ensino fundamental e médio, para evitar a seletividade na hora de definir quem será encarcerado, a escolha pela vulnerabilidade socioeconômica e pelos estereótipos raciais e de gênero”.

Foto: Cleomário Alves/SJDH. Texto: Ascom. Secretaria de Justiça e Direitos Humanos – SJDH

Desafios

Foram abordados os desafios da implementação das alternativas penais, incluindo a necessidade de participação efetiva da sociedade civil, especialmente de pessoas diretamente afetadas pelo sistema prisional, e o enfrentamento das desigualdades sociais, com suas intersecções de raça, de gênero e outros marcadores.

O papel das Centrais Integradas de Alternativas Penais (CIAPs), dos serviços de Atendimento à Pessoa Custodiada (APEC), e da formação continuada dos profissionais do sistema de justiça foram destacados como fundamentais para o sucesso da política.

Homenagem – A cerimônia contou com uma homenagem à assistente social, ativista antirracista e ícone na luta pela dignidade no sistema prisional, Andréa Mércia Batista de Araújo, falecida em 2020.

Foto: Cleomário Alves/SJDH. Texto: Ascom. Secretaria de Justiça e Direitos Humanos – SJDH

“Não seria possível organizar um seminário nacional de alternativas penais no estado da Bahia sem nos curvarmos diante de Andréa Mércia, diante de tudo que ela representou e representa.

É muito importante a gente olhar para quem pavimentou a estrada”, declarou Mayesse Silva Parizi.

A mãe e os dois filhos de Mércia receberam flores e foram aplaudidos de pé pelo público.

Além de Felipe Freitas, os secretários José Castro (Administração Penitenciária e Ressocialização da Bahia), e Marcelo Werner (Segurança Pública) também participaram da solenidade de abertura. Representando o sistema de justiça, o desembargador Geder Luiz Rocha Gomes (Tribunal de Justiça da Bahia – TJ-BA); a defensora pública geral da Bahia, Camila Angélica Canário Sá Teixeira; e o procurador-geral de Justiça da Bahia, Pedro Maia; além da diretora de Cidadania e Alternativas Penais do Sennapen, Mayesse Silva Parizi.