Câmara debate políticas públicas para a juventude
A Câmara Municipal de Vitória da Conquista realizou nessa quinta (04), Audiência Pública para debater a Violência contra a Juventude. O vereador Coriolano Moraes, Professor Cori, presidiu a Mesa, que foi composta pelo Pároco da Paróquia São Miguel Arcanjo, Padre Zenilton Dias dos Santos, conhecido como Padre Monginho; Coronel Esmeraldino Correia; a Coordenadora do Conselho Tutelar da Zona Leste Juliana Mota Sampaio; a Coordenadora do Conselho Tutelar da Zona Rural, Beatriz Galvão; o representante da Pastoral da Juventude, Welder Cardoso; o Subcomandante Capitão PM André Máximo Braga, representando o Comandante da 92ª Companhia Independente de Polícia Militar, Capitão Edmário José Britto Araújo; a Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Cássia Eugênia Reis; e o Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Vitória da Conquista e Diretor Espiritual do Seminário Arquidiocesano, Padre Gerson Bittencourt. Também estiveram presentes os vereadores, Nelson de Vivi, Florisvaldo Bittencourt e Fernando Vasconcelos também estiveram presentes.
O vereador Coriolano Moraes disse ser necessário refletir sobre o que estamos fazendo para mudar a realidade enquanto postura, atitude, reflexão e contribuição em programas dentro da nossa sociedade. Afirmou que “a CMVC tem trabalhado, não tem se furtado ao debate”. Citou que “a Audiência foi fruto de diversas reuniões com a pastoral da juventude”. Acrescentou que as políticas públicas de esporte, educação, inclusão ao curso superior, precisam ser discutidas para a juventude da área urbana e rural. “Vamos continuar à disposição, abertos para as críticas”. Também enfatizou que o papel da mídia precisa ser discutido, alertando para a violência que há nos desenhos e filmes e que “as novelas destroem a concepção de núcleo familiar”. Apresentou a estatística de que nos últimos três anos, foram registrados 513 homicídios em nosso município.
Em sua fala, o Padre Monginho destacou que a humanidade padece de várias formas de violência como o aborto, os roubos, os sequestros, o desrespeito no trânsito, as agressões, os homicídios, a corrupção, a falta de condições de saúde, o tráfico de drogas e pessoas. “É a vida humana sendo violada”, caracterizou o sacerdote.
Ele apontou também que nenhuma das formas de violência são agradáveis aos olhos de Deus e explicou que ela tem origem no próprio ser humano. “Nasce do ódio, da vingança, da marginalização social”, disse antes de caracterizar o homicídio como forma de violência que se configura em pecado mortal.
O padre disse ainda que “a paz não é somente a ausência de violência. É um dom de Deus e uma tarefa de todos os homens e mulheres”.
O Coronel Esmeraldino Correia destacou que a população está sofrendo muito com a violência. “Sei da dificuldade que é trabalhar na Polícia Militar”, enfatizando os fatores sociais colaboram para os números da violência. Citou que em Vitória da Conquista, apresenta a estatística de 8,7 jovens em mil para morrer, atrás apenas de Itabuna, Cariacica e Camaçari. Acrescentou que estudou criminologia e verificou problemas como o uso e abuso de drogas, o isolamento da mulher, a desigualdade dentre homens e mulheres, acesso às armas e aceitação a violência. “Temos que tomar uma providência corajosa”.
A coordenadora do Conselho Tutelar da Zona Leste da cidade, Juliana Mota, destacou o dever da família, da sociedade e do estado de garantir a crianças e adolescentes os direitos fundamentais. Segundo ela, em Vitória da Conquista várias crianças e adolescentes tem seus direitos violados, em geral pela família e por instituições que deveriam resguardar a segurança.
Juliana projetou que se não houver ações que possibilitem a reversão do crescimento da violência contra crianças e adolescentes, em 2040 ocorrerá mais de 6 mil homicídios em Vitória da Conquista.
A Coordenadora do Conselho Tutelar da Zona Rural, Beatriz Galvão, disse que a violência pode surgir em pequenas coisas como a internet. “Quantas vezes em redes sociais vemos corpos expostos e pessoas armadas? Tantas violências rodando na internet e muitas vezes só pelo fato de adolescentes e crianças verem podem ser absorvidas em muitas situações”. Criticou aqueles que desejam combater violência com a violência. “Há os movimentos religiosos, da juventude, as políticas públicas para agir de caráter protetivo e preventivo”. Entende ser utopia o fim da violência, “mas não podemos parar de lutar”. Destacou a importância do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), afirmando ser “instrumento importante na questão dos direitos e responsabilidade dos jovens”.
Representando a Pastoral da Juventude, Welder Cardoso iniciou a sua fala defendendo a tese de que a violência é uma construção social influenciada por vários aspectos, inclusive pelos religiosos. Segundo ele, a missão de Jesus, compartilhada com todos, é promover a vida. “A vida deve ser plena para todos”, defendeu.
Segundo Helder, a Igreja Católica e a Pastoral da Juventude não desistirão de lutar contra a violência. “Enquanto nossos jovens estiverem morrendo, a PJ vai continuar gritando, enquanto isso não mudar, a igreja vai continuar gritando”, disse o representante da Pastoral da Juventude.
Ele lamentou que o Governo do Estado veja a prisão e o assassinato de pessoas envolvidas com o mundo do crime como uma política de segurança pública. Antes de concluir o seu pronunciamento, ele lembrou e cobrou a solução do caso do menino Maicon, desaparecido desde dezembro de 2012, durante uma ação policial cujo paradeiro ainda não foi solucionado. “Não dá pra esquecer. Ou dá?”, questionou.
Outra cobrança apresentada por Helder, foi a priorização no município das questões da juventude.
O Subcomandante Capitão PM André Máximo Braga disse estar feliz por tratar de assuntos relevantes para a juventude. Agradeceu a formação que teve na Igreja Católica. “As estatísticas são tristes. O número de homicídios é alto”. Esclareceu que a PM não quer ser repressiva, mas quer ser participativa do processo. “Elaboramos diversos projetos sociais”. Acrescentou a necessidade da participação dos poderes Executivo e Legislativo e, principalmente, da família, citando os textos bíblicos de Provérbios 22.5 e Efésios 6.1-2. “ Não podemos perder a sensibilidade. Como cristão devemos participar do processo, inserirmos nesse projeto para termos uma comunidade mais justa e digna de viver. Somos responsáveis. Devemos procurar fazer a nossa parte para um mundo melhor. A companhia rural está à disposição de todos”. Finalizou dizendo que a “a paz é um dom de Deus”.
A presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comdica), Cássia Eugênia, parabenizou a Câmara pela atitude de pautar a discussão sobre os direitos da criança e do adolescente. Ela explicou que o Conselho é um órgão fiscalizador e deliberativo das políticas voltadas para crianças, adolescentes e juventude e que é responsável também por construir planos de enfrentamento da violência.
O Pároco da Paróquia Nossa Senhora das Graças em Vitória da Conquista e Diretor Espiritual do Seminário Arquidiocesano, Padre Gerson Bittencourt, disse que os padres conhecem muito a alegria de um nascimento, de um batizado, de um casamento, quando o jovem fala do primeiro emprego, a formatura, “mas conhecemos a dor e as lágrimas das pessoas que sofrem violência, o velório, o luto, o sofrimento, principalmente quando é de um jovem assassinado”. Afirmou que a presença é de uma igreja samaritana, preocupada com os feridos na estrada da vida. “Agradecemos a casa, a mesa, e precisamos estar mais unidos, mentes e corações, para que nossas mãos sejam instrumentos de paz”.