Crônica da semana: “A medida das coisas”, por Nilson Lattari

Camara Vitória da Conquista

Foto de Nathan Dumlao na Unsplash

          Nos contentamos com pouco ou nos contentamos com muito?

          No mundo temos aqueles excessivamente ricos e temos os excessivamente pobres. Excessivamente egoístas e os excessivamente altruístas. Excessos para cima e excessos para baixo. Teremos um meio do caminho, não muito preciso, uma espécie de balança que ora beira um lado e ora beira o outro?

          Deveríamos imaginar que o principal desejo de um ser humano seja o de se realizar como tal, cumprindo seu papel no mundo. Na falta de uma expressão melhor: buscando um sentido para a sua vida. Alguns pensam que encontrar o seu amor, viver a sua paixão seria o objetivo do ser humano. Encontrar o seu par perfeito, sua alma gêmea. Outros imaginam ter um trabalho onde possa realizar todas as suas aptidões, explorar todo o seu potencial. Nem mesmo seria como uma profissão, mas deixar um espírito aventureiro e empreendedor alçar voo. Ou para aqueles que decidem ficar quietos no seu lugar, contemplar a vida passando devagar e viver no seu íntimo, no seu pensamento.

          No meio do caminho dessas aptidões encontramos a necessidade de ferramentas para sobreviver em um mundo onde tudo se resume a ter dinheiro e, para alguns, o poder sobre outros. Criar patrimônio, acumular riquezas, mesmo tendo a consciência de que não poderemos usufruir daquilo por uma eternidade. Há o momento onde tudo se desfaz e nada adianta ter muitas coisas.

          Encontrar a medida para viver no meio de tantas tentações de consumo que, mesmo inconscientemente, sentimos, de uma maneira ou de outra. Não é possível viver em uma ilha dentro de um continente de situações, cercado por diversos apelos, no meio de outros e, de repente, estamos copiando tudo e todos e buscando referenciais nos olhares alheios e nos espelhos do nosso narcisismo.

          Existe uma fórmula para isso? Sim. A questão é se desejamos, do fundo do coração, isso. Sabemos o caminho das pedras e insistimos em nadar em águas turvas, correndo todos os perigos. Felizes daqueles que se afastam de tudo e veem o mundo desde um lugar distante, mesmo sendo na imaginação.

          Em tempos de pandemia, muitos começaram a perceber a vida com esse distanciamento. Alguns aprenderam com isso, outros não resistiram e voltaram à antiga normalidade, mesmo correndo os riscos.

          Será que aprendemos algo? Será que aprendemos a tentar a medida de todas as coisas, buscar um equilíbrio, um equilíbrio que bailava na imaginação e, hoje, tem a oportunidade de se fazer presente?

          Enquanto vivíamos isolados, o espelho de Narciso não aparecia para refletir nossos egos. A necessidade do espelho nos jogou nas ruas, apesar dos perigos. Mesmo cautelosos, não aprendemos a medida de todas as coisas.

          Como avaros medimos o muito como pouco e como perdulários medimos o pouco como muito.

          Saber a medida de todas as coisas é uma epifania, um momento de iluminação que compreendemos tudo, ou quase tudo. Ninguém vai conseguir a medida de todas as coisas, mas pode conseguir as coisas à medida que as conhece.