Governo da Bahia participa de seminário com comunidades tradicionais de fundo de pasto

Foto: Tassio Ramos//Bahia Sem Fome


Encontro discute conservação da Caatinga, segurança alimentar e patrimônio agrícola mundial

Cerca de 60 pessoas das comunidades tradicionais de fundo de pasto das regiões de Monte Santo, Uauá e Juazeiro compartilharam, nestas quinta (20) e sexta-feira (21), experiências que podem ser reconhecidas mundialmente pela FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura.

A troca aconteceu durante seminário que contou com a presença do Governo do Estado, por meio da Coordenação-Geral do Bahia Sem Fome, e da Secretaria do Desenvolvimento Rural – SDR.

“Apoiar essas iniciativas é prospectar uma sociedade mais frutífera, mais frondosa, mais resiliente e sustentável, em que a agricultura vai ser o pivô do desenvolvimento para que a gente consiga atacar a pobreza, a miséria e a fome, oportunizando o trabalho, os meios de produção, o uso sustentável da terra e o manejo sustentável da natureza e do meio ambiente.

A Coordenação do Bahia Sem Fome visitou a Cozinha Comunitária e Solidária do Clube de Mães de Uauá, nesta sexta-feira (21). Foto: Thassio Ramos / Bahia Sem Fome

Nós acreditamos nessas comunidades que vêm ajudando a manter a Caatinga em pé, de forma sustentável e saudável”, destaca Tiago Pereira, coordenador- geral do Bahia Sem Fome.

Para o articulador estadual das Comunidades Tradicionais de Fundos e Fechos de Pasto na Bahia, Valdivino Rodrigues, o reconhecimento da FAO é muito importante para as comunidades de fundo de pasto, para o semiárido brasileiro e o semiárido baiano.

“Estamos entregando aqui um dossiê que estamos realizando desde o início do ano, além do plano de conservação dinâmica que terminamos nesta quinta-feira”, afirma.

As comunidades tradicionais de fundo de pasto vêm, desde janeiro deste ano, construindo um estudo para pleitear um reconhecimento internacional da FAO, denominado SIPAM — Sistemas Importantes de Patrimônio Agrícola Mundial.

As comunidades podem se tornar o terceiro sistema brasileiro a ser reconhecido com o selo SIPAM pela FAO.

O programa da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura busca reconhecer e apoiar sistemas agrícolas tradicionais que combinam sustentabilidade, biodiversidade e cultura.

O objetivo é salvaguardar paisagens, conhecimentos e práticas agrícolas únicas e resilientes em todo o mundo. 

O primeiro sistema brasileiro reconhecido pela FAO como SIPAM foi o dos Apanhadores de Flores Sempre-vivas da Serra do Espinhaço (Minas Gerais), que se destaca pela relação de seus habitantes com o meio ambiente, a preservação da flora e da paisagem e o uso sustentável dos recursos naturais.

O reconhecimento aconteceu em março de 2020.

O segundo sistema brasileiro foi reconhecido em maio deste ano: o cultivo de erva-mate sombreada (Paraná), uma prática ancestral dos povos indígenas Guarani e Kaingang, realizada sob a sombra da Floresta com Araucárias.

O método promove a preservação do ecossistema, garante a soberania alimentar e fortalece a identidade cultural.

O reconhecimento oficial foi celebrado em uma cerimônia, em Roma, no dia 31 de outubro de 2025.

O Seminário Regional com Comunidades Tradicionais de Fundo de Pasto foi organizado pela Articulação Estadual de Fundo e Fecho de Pasto, a Escola Família Agrícola do Sertão – EFASE e o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA, com apoio do Governo da Bahia, por meio da Coordenação-Geral de Ações Estratégicas de Combate à Fome – Bahia Sem Fome. 

O coordenador do Eixo Produção Apropriada do IRPAA, Nilton Oliveira, enxerga ser fundamental o apoio do Bahia Sem Fome ao evento: “Entender essa ação como com uma estratégia também de garantir a permanência desses territórios com a biodiversidade, com a produção sustentável.

A gente vê que essa politica pública não é só levar o alimento, mas garantir que as comunidades continuem produzindo e desenvolvendo seus moldes de vida”, finaliza.

As comunidades de Fundo de Pasto têm como características o uso comunitário da terra, podendo estar aliado ao uso individual; produção animal, principalmente caprinos e ovinos; e produção agrícola de base familiar para consumo e comercialização; somados ao extrativismo sustentável.

Têm sua cultura própria, parentesco, compadrio e solidariedade comunitária associada à preservação de tradições e práticas sociais, uso adequado dos recursos naturais disponíveis e conservação da Caatinga em pé, segundo práticas tradicionais, e estão localizadas no bioma Caatinga, bem como nas transições Caatinga/Cerrado.

Em muitas dessas comunidades de Fundo de Pasto, a ocupação da área pelas famílias remonta ao início do século XIX, com aproximadamente 200 anos de existência na área.

Assessoria de imprensa – Camila Fiúza. Bahia Sem Fome