Herdeiros da Reforma!
HERDEIROS DA REFORMA!
“… Mas, o justo viverá da fé” (Romanos 1.17 b).
Ano 495 da Reforma Protestante do Século XVI.
Um pouco de história da igreja.
No primeiro século, Jesus organiza a sua igreja (Mc 3.16-18) em Jerusalém. Perseguição e expansão da igreja de Cristo (Atos). Perseguição estatal e, posteriormente, união da igreja com o Estado sob Constantino, 313 a. D., Edito de Milão. Em 869 a.D., ocorre o primeiro grande cisma no contexto do Catolicismo romano e, assim surge a Igreja Católica Ortodoxa Grega. Portanto, seis séculos depois, dada a extrema corrupção da igreja, eclodiu a reforma no auge da idade média. Sem dúvidas, um fato que mudou para sempre não apenas a história da igreja, mas também a história do mundo. A reforma protestante, ainda que inseparável de seu contexto – histórico-politico, socio-econômico e, sobretudo, intelectual (a Renascença, especialmente, o humanismo cristão no norte da Europa, influenciado por Erasmo de Roterdam e seu novo Testamento Grego, 1516) -, era profunda e essencialmente religiosa na sua motivação e objetivo principal: reformar a igreja de Cristo.
Os reformadores de um modo geral – Lutero, Calvino, Melancton e Farel, entre outros -, eram piedosos, eruditos, peritos nas línguas originais e, acima de tudo, fundamentados nas fontes bíblicas e patrísticas, além de humanistas. A reforma protestante do século XVI, alcançou seu ápice sob a liderança de Martin Lutero, monge agostiniano, com a publicação das 95 Teses posta na porta da igreja do castelo de Wittenberg, contra a venda das indulgências – usadas para financiar a construção da basílica de São Pedro em Roma -, pelo dominicano João Tetzel (1.10.1517), na Alemanha. A reforma, porém, fora precedida de vários movimentos que tentaram ‘reformar’ a igreja católica medieval, por exemplo: os Valdenses, nas regiões alpinas, Wycliff e Lolardos na Inglaterra e os hussitas na Boêmia.
Entretanto, qual a verdadeira questão levantada pela reforma e, por outro lado em que sentido somos seus herdeiros? Para J. Senarclens, “a questão da fidelidade da igreja ao seu fundamento, fundamento que é auto-doação de Deus em Cristo (…). Assim, a igreja reiterará essa questão em todas as épocas não somente pelo dever de velar pela verdade de sua pregação e ensino, mas também porque é da própria natureza da igreja obedecer a Cristo e deixar-se renovar constantemente pelo Espírito. Longe de ser abstrata ou meramente acadêmica, a questão é essencial para a vida e missão da igreja já que diz respeito à verdade de sua fé, à comunicação do Evangelho a nossa geração envolta em sua história peculiar”.
Mas, afinal, qual foi o ponto de partida de sua ação reformadora? Esta foi precisamente a questão que eles endereçaram à Igreja de seu tempo: és, na verdade, na tua fé, no teu ensino e nas tuas atividades, testemunha e, conseqüentemente, herdeira do Evangelho dos profetas e dos apóstolos? Evidentemente, a questão apresentada pelos reformadores além de alarmante para à Igreja da época, exprime, a um só tempo, uma inquietude, um desejo de obediência e uma necessidade de ser autêntico e, portanto, a vontade decorrente de não se deixar aprisionar nas tradições, ainda que respeitáveis, não são e jamais serão garantia de estar de acordo com a mensagem do evangelho do Deus vivo, como a história da reforma comprova amplamente e, assim, também, a história da igreja atual. Para cumprir a sua missão no mundo hodierno, a igreja não deve ajustar a mensagem cristã às categorias de pensamento do homem secularizado, antes, pelo contrário, deve expor a mensagem de tal modo que o homem moderno seja trazido a Cristo e ao seu Evangelho e seja renovado pela transformação de sua mente tornando-se filho do pai celeste.
Contudo, será que o ponto de partida da teologia moderna se assenta sobre a base da auto-revelação divina, isto é, Deus-Escrituras (João 1.1; 5.39; 1 Jo 1.1-3)? Em segundo lugar, é preciso que se pergunte: a teologia em suas diversas construções atuais estar de acordo com a doutrina central do cristianismo, isto é, Deus-Cristo? Este reflexão não é uma peça especulativa ou abstrata. Antes, pelo contrário, trata-se de uma inquietude pastoral: que estamos pregando a este mundo transtornado? Que imagem de Jesus Cristo lhe damos a ver? De onde vimos como povo de Deus? Que dizer ao homem pós-moderno diante de tantas práticas contrárias ao ensino de Cristo? E, principalmente, onde nos encontramos como Igreja de Cristo, sobretudo, diante da obra prodigiosa que Deus realizou em nosso favor, obra que pode aliviar, consolar, fortalecer – salvar, sim – todos os homens? Jesus afirmou: “Vinde a mim, e eu vos darei vida abundante!”.
Nestes tempos de apostasia no contexto da igreja de Cristo, vale ressaltar a afirmação de J. Senarclens (1970, p. 15), em sua notável obra, Herdeiros da Reforma: “As Igrejas cristãs não estão divididas por causa de sua fidelidade, e sim de sua infidelidade”. Mas, infidelidade a quê? A quem? Sem dúvidas, no que diz respeito à vida total da igreja – no que tange a sua doutrina e missão evangelizadora no mundo -, pode-se afirmar que trata-se de infidelidade a “Revelação Bíblica” (ponto de partida da fé); e, a Jesus Cristo, o Senhor (Cristologia; o centro vital de sua fé). O grande legado da Reforma é a centralidade das Escrituras e de Jesus Cristo nas Escrituras, na vida de cada crente, especialmente na vida da Igreja. Hoje, a igreja precisa reafirmar o fundamento de sua origem e vida, isto é, Jesus Cristo, o único Salvador e Senhor (João 3.16; Atos 4.11,12).
Sim, a igreja atual, herdeira do grande legado da reforma protestante do século XVI, necessita rever, preservar e difundir o evangelho de Cristo como plenamente suficiente para a salvação de todos os homens (Romanos 1.16.17; Efésios 2.1-9). Portanto, que o lema da reforma: “Igreja reformada, sempre reformada” pela fé (Sola Fide), pela graça (Sola Gratia), pelas Escrituras (Sola Escripturae), seja também o nosso, pois “ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina” (1 Coríntios 3.11; Efésios 2.20). Que o legado espiritual, educacional e social da reforma continue sendo uma perene fonte de inspiração para todos os cristãos de hoje.
Pr. Antonio Sérgio A. Costa, Th.D
Doutor em Teologia/STBNB; Lic., em Filosofia/STBTFBB/UFBA; Bel em Direito/FAINOR
Pastor da Igreja Batista Bethléem em Vitória da Conquista, Bahia