Instagram e o colapso da estética perfeita

Fonte Izabelly Mendes

Por muito tempo, o Instagram foi o grande templo da estética perfeita.

Desde sua criação, a rede social se consolidou como palco de imagens planejadas ao extremo: cafés posicionados com cuidado sobre a mesa, corpos dentro de padrões rígidos, viagens em cenários paradisíacos e poses ensaiadas que transmitiam uma vida idealizada.

O feed harmonizado, com cores combinadas e filtros similares, tornou-se quase uma exigência para quem queria reconhecimento e seguidores.

Essa lógica, porém, acabou gerando uma enorme pressão sobre os usuários comuns e até sobre os influenciadores, já que todos pareciam obrigados a viver de acordo com um padrão inalcançável de beleza, riqueza e felicidade.

Esse cenário de perfeição fabricada começou a desmoronar com o tempo.

O colapso da estética perfeita é resultado de várias forças culturais e sociais que se entrelaçam.

Primeiro, há o desgaste natural de uma fórmula repetida: feeds impecáveis passaram a parecer todos iguais, tirando a sensação de autenticidade.

Segundo, a própria audiência amadureceu.

Em um mundo marcado por crises econômicas, problemas sociais, instabilidade política e saturação de informações, a busca por realidade se tornou mais urgente.

O público passou a valorizar conteúdos mais crus, espontâneos e humanos.

Assim, aquela foto ensaiada em um cenário de luxo perdeu espaço para o vídeo improvisado que mostra a vida como ela realmente é.

Outro fator determinante para esse colapso foi o crescimento do TikTok.

A plataforma chinesa mostrou que não era necessário ter câmeras profissionais, cenários impecáveis ou filtros elaborados para conquistar milhões de visualizações.

Bastava ter criatividade, autenticidade e a capacidade de contar histórias.

O sucesso estrondoso do TikTok obrigou o Instagram a repensar sua lógica, priorizando os Reels e, de certa forma, abandonando a ideia de que o feed perfeito era o coração da rede.

Agora, os usuários são incentivados a mostrar mais da sua rotina, com cortes rápidos, humor e até erros, criando uma atmosfera de proximidade e identificação.

Esse movimento trouxe transformações profundas no papel dos influenciadores digitais.

Se antes o “padrão” era ser quase uma celebridade inalcançável, hoje a influência está diretamente ligada à proximidade e à capacidade de gerar conexão.

Perfis que mostram vulnerabilidade, bastidores de suas vidas, momentos de fracasso e até inseguranças passaram a ganhar mais engajamento do que aqueles que insistem em manter apenas a máscara da perfeição.

Essa virada também reflete uma exigência do público: consumidores e seguidores querem diversidade, inclusão e representatividade.

Marcas que só trabalham com rostos “perfeitos” e dentro do mesmo padrão estético já enfrentam críticas e, muitas vezes, boicotes.

Não se trata de dizer que a estética perdeu importância.

A beleza, o design e a harmonia visual continuam sendo relevantes, especialmente em uma rede visual como o Instagram.

Mas eles deixaram de ser suficientes.

Hoje, uma boa estética precisa estar acompanhada de autenticidade e propósito.

A influência não está mais somente no filtro perfeito, mas no conteúdo que emociona, faz refletir ou diverte.

Essa transição não apenas humaniza a experiência digital, mas também abre espaço para diferentes corpos, estilos, realidades e narrativas.

O colapso da estética perfeita, portanto, pode ser visto como um amadurecimento coletivo.

Ele liberta usuários da pressão por uma vida de capa de revista e fortalece o valor do real, do imperfeito, do espontâneo.

Criadores que antes se viam obrigados a gastar horas editando fotos e planejando conteúdos agora encontram espaço para simplesmente compartilhar quem são.

E essa mudança não afeta apenas indivíduos, mas também marcas, empresas e até a cultura digital como um todo, que precisa se reinventar em torno de valores mais humanos.    Baixar video Instagram

O futuro do Instagram parece apontar para essa pluralidade.

Não há mais espaço para um único padrão de beleza ou de estilo de vida; o que prevalece é a diversidade.

Redes sociais, afinal, foram feitas para conectar pessoas, e não para transformá-las em versões irreais de si mesmas.

A era do feed perfeito chega ao fim dando lugar a um espaço mais democrático, onde cada um pode ser visto pelo que realmente é: múltiplo, imperfeito e em constante transformação.