Interesse por produtos de beleza atrai 72% dos homens

Tabu da ‘masculinidade frágil’ impede escalada do setor
Crescimento está alinhado à alta do setor em 9% até 2030, segundo a Grand View Research.
Dentro dos armários de casa ou em nécessaires, o kit de skin care masculina está cada vez mais frequente.
Romper o tabu do self-care (autocuidado) entre homens, no entanto, percorre obstáculos antigos que, aos poucos, vem sendo substituídos por uma pomada capilar aqui, um óleo para barba ali, e uma lista infindável de shampoos, balms, perfumes, cremes e tônicos.
Essa mudança parte da maior procura do público masculino por rotinas de autocuidado. Segundo um estudo da Kantar, cerca de 72% dos homens já se interessam por produtos de beleza específicos, impulsionando o crescimento do mercado desde 2023.
Alinhado às rotinas de skin e self-care, os procedimentos estéticos têm caminhado junto à escalada dos tratamentos faciais, com procuras por toxina botulínica (botox), transplante capilar, peeling e rinoplastia.
Ainda que a procura por tratamentos faciais entre os homens chegue à 17%, o tabu acerca da “masculinidade frágil” impede a escalada do setor.

Foto: acervo pessoal
De acordo com a Dra Jéssica Magalhães, biomédica especialista em cuidados com a pele preta, assumir a naturalidade das rotinas de self-care apresenta resistência e cautela entre o público masculino.
“No consultório, a primeira abordagem do público masculino é correlacionado à foliculite, gerando hiperpigmentação pós-inflamatória, aspereza da pele e, sem dúvidas, cravos e espinhas (acne).
O que falta muitas vezes à esse público mais tímido é informação. Existe ainda uma ideia de que cuidar da pele é vaidade, quando na verdade é sobre bem-estar, presença e segurança em ambientes sociais e profissionais.
Os homens estão entendendo isso aos poucos e, portanto, os kits de self-care e a ida aos consultórios tem crescido”, explica.
A especialista observa que a presença masculina aumentou 40% em seu consultório, nos últimos anos.
Já as previsões para a próxima meia década, é que essa indústria cresça em até 9%, segundo a Grand View Research.
Demonstrando que o que antes se resumia à barba feita e cabelo aparado, hoje em dia, tornou-se um cenário amplo e promissor.
“Ainda há muito o que avançar, mas é comum receber pacientes solicitando tratamentos como peelings químicos, microagulhamento, aplicação de toxina botulínica e bioestimuladores de colágeno.
Além disso, muitos querem orientação sobre como suavizar manchas, melhorar a textura da pele ou manter a firmeza do rosto de forma natural.
Existe uma preocupação crescente com a aparência, sim, mas também com o bem-estar e a segurança de se sentir bem com a própria imagem”, comenta a biomédica.
A biomédica destaca que a mudança comportamental tem raízes nas redes sociais, acrescida da busca por autoestima, representatividade e confiança na própria imagem.
Quando o assunto é pele negra, Jéssica ressalta a importância de uma abordagem específica e atenta.
“Muitos homens negros, inclusive pais que nunca tiveram acesso a esse tipo de informação, estão agora redescobrindo o valor de cuidar da própria pele e isso tem impacto direto na autoestima dessas pessoas.
O estigma do homem negro, por anos, teve sua imagem associada à rispidez, força bruta e à ausência de sensibilidade.
Esse imaginário acabou afastando muitos homens negros dos espaços de cuidado, como clínicas de estética ou consultórios dermatológicos”, elucida.
Próximo à chegada do Dia dos Pais, 10 de agosto, a biomédica esteta destaca o aumento do interesse masculino por procedimentos voltados à queda de cabelo, fortalecimento da barba, controle da acne e até harmonização facial.
O público dessa faixa etária, segundo Jéssica, tem cedido aos cuidados preventivos e a preocupação com a aparência, principalmente com a chegada do fator “envelhecimento”.
Entre homens negros, a especialista destaca uma atenção especial às manchas, foliculite e texturas irregulares da pele, que são tratadas com pouca representatividade nos protocolos tradicionais.
“Existe um movimento forte de busca pela estética respeitosa às características individuais da pele, mas que traga segurança ao olhar no espelho.
E o mais bonito é perceber que, pouco a pouco, esse público se permite descobrir o lugar de cuidado e aceitação.
Muitos desses homens são pais que cresceram sem referências ou incentivo para olhar para si mesmos com gentileza.
Ver esse cuidado nascer, muitas vezes como um presente para si no Dia dos Pais, é também uma forma de quebrar ciclos e abrir espaço para um novo olhar sobre masculinidade e bem-estar”, conclui a biomédica Jéssica Magalhães.