Luz na escuridão

Camara Vitória da Conquista

Origem da foto Gemini

Crônica da semana, por Nilson Lattari

          Dá um certo medo imagiar o quanto dependemos da eletricidade. Nossos aparelhos, principalmente aqueles dos quais nossas vidas dependem, como nos hospitais, aqueles em nossa casa, em nossa vida profissional e outros mais. A eletricidade nos impulsiona. Quando ela se vai, tudo parece desaparecer: nossos telefones e a nossa conexão com o mundo. A conexão, hoje, não é somente esse meio de se comunicar com o mundo e entre as pessoas, mas também a eletricidade, que possibilita, fisicamente, por assim dizer, aquilo que fazemos virtualmente.

          Esse apagão que nos assusta, também está presente no sumiço da memória, nesse recontar da história, para refazer verdades em troca de interesses pessoais ou de governos. É uma desconexão com a realidade, um apagão de lembranças e recordações que calam multidões, onde a eletricidade não funciona e cria novos membros para um suposto novo mundo.

          Nossos apagões contemplam a falta de sentimentos, a ausência da empatia e da compreensão pela dor do outro. Como assassinos frios, eliminamos a nossa sensibilidade em troca de uma segurança, ignorando que a nossa segurança está, justamente, na segurança alimentar e social do outro. Apagamos da nossa mente os sentimentos mais benéficos, embora mantenhamos acesas para o mundo, uma certa boa vontade para com o outro. Esses momentos são os natalinos, principalmente, que parecem ser uma luz na escuridão ou em nossa surdez para os chamados de socorro do mundo.

          O conhecimento sofre uma ruptura quando a ignorância reluz. Solapar o conhecimento que não interessa a determinado grupo, um apagão acontece e o desconhecimento toma conta do ambiente, entregando todos à luz das velas cujas chamas dançam ao sabor do vento.

          A desigualdade social é a consequência de um apagão das classes mais favorecidas quando negam a conexão que possibilita oportunidades, relegando uma parte expressiva da população ao abandono, sinônimo de um apagão social, proposital e criminoso, negando a luz que indica o caminho para a sobrevivência.

          As guerras são apagões que dominam determinados governos, quando decidem escolher, em lugar do povo atacado, aqueles que vão determinar como a conexão da nação se dará com o mundo. A quebra dessa conexão leva o povo a não mais se identificar com si mesmos, provocando a desconexão entre as pessoas, levando-os ao caos e à desordem.

          Mas, por alguns momentos, à luz das velas, quando as pessoas voltarem a olhar nos olhos e contar somente com suas memórias para animar o encontro, a falta da eletricidade provocará uma nova conexão. Necessitamos voltar a conversar em torno do fogo, nas reuniões informais entre velhos conhecidos. Sair das sombras da tecnologia e encontrar novamente o mundo funcionando.

          Quem sabe a luz do sol ou dos astros da noite sejam os responsáveis por uma nova conexão no mundo. Comunicar sem depender, sem o intermediário que usa a eletricidade e o processo online do conhecimento para induzir apagões nas mentes das pessoas, com uma árvore natalina iluminada pelo brilho dos nossos olhos.