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Ser antigo não é ser antiquado: Nilson Lattari escreve a Crônica da Semana

Crônica da Semana por Nilson Lattari – Foto de DESIGNECOLOGIST na Unsplash

Gosto de coisas antigas.

Antigas, não antiquadas, dessas que têm bolor, cheiro de naftalina, desnecessárias, fadadas a serem esquecidas.

Antiquadas têm várias formas de dizer, antigas, não.

Antigas têm certa presença de romantismo que merecem ser acariciadas, como se volteando as mãos sobre elas nós pudéssemos retornar no tempo, imaginando por quantas mãos passaram.

E se moedas por quantas mãos, ricas e pobres, passaram, ou foram objetos de troco, complementos de compras ou, simplesmente, esmolas dadas, compraram brinquedos, e então, quantos risos alcançaram.

Gosto de coisas antigas, não de coisas antiquadas.

Como carros que passam pelas ruas, reluzindo seus belos metais que outrora desfilaram em portas de casas luxuosas.

Pelas avenidas, como algo corriqueiro e mundano, e, no futuro, produtos de admiração, como se fossem heróis que atravessaram o tempo, incólumes.

Gosto de coisas antigas, não de coisas antiquadas.

Como os pensamentos de dificuldades vividas, quando são antigos; sem desprezar o que a tecnologia proporciona, abominá-la, isso é saudosismo, é coisa antiquada.

Porque isto não é ser moderno, ou pós-moderno.

Pensar como o tempo de antes, o tempo passado foi melhor é ser antiquado e não, antigo.

Como imaginar que a vida era mais fácil? Se era mais difícil viajar, por exemplo.

Mas ser antigo é respeitar essas modernidades e comparar é antiquado; ver cada coisa com suas peculiaridades, e conviver com o tempo, respeitá-lo.

Humanidade é trazer coisas antigas, mas ficar sempre criticando, dizer que o outro tempo era melhor; isso é coisa antiquada.

Olhar no espelho e se ver antigo, e procurar não ser antiquado dando um corte mais moderno ao penteado, usar roupas mais coloridas ou menos coloridas, experimentar novos sapatos, novos tênis, não rejeitar os transportes mais modernos, admirar as novas tecnologias, aprender com aqueles que as usam, é admirar e, confesso, até invejar o mundo pós-moderno.

E pensar quantas coisas os jovens verão, sem esquecer quantas coisas nós vimos e vemos, então, é respeitar o ser antigo, e não ser antiquado.

De certa forma, existe um prazer em conviver nesse meio mundo mais antigo e mais moderno. Ser antigo é como ser um passageiro do tempo.

Observar os outros, mais jovens, é até engraçado.

Vibrar com a chegada de uma corrida, enquanto outros registram em seus aparelhos e veem aquela chegada no seus Smartphones e não pelos olhos de testemunho.

Sentar em uma praça e observar os passantes hipnotizados na tela iluminada, e pensar que você viveu e não precisou daquilo.

Poder chegar mais rápido no destino e aproveitar os momentos de lazer bem melhor; ter as receitas mais rápidas e não perder tempo em procurá-las através de folhas e folhas; tantas coisas boas, por que querer ser antiquado, quando se pode ser, apenas, antigo?

Ou então saber as soluções mais simples e ver o novo enrolado, é não ser feminista ou machista, apenas ser descolado.

Descolado dos preconceitos, descolado das coisas supérfluas, ou então ser descolado nas escolhas, abandonando coisas velhas e escolhendo o cheirinho bom do novo e fresco.

Antigos todos seremos, algum dia, e a escolha é atravessar o tempo e não parecer antiquado, amargurado.

Talvez o segredo seja preparar o futuro, programando dinamismos, produzindo algo que traga prazer, e não ser antiquado apenas tendo no futuro a espera do carteiro e desprezar o e-mail.

Ou a chegada da hora para buscar o pão para o café de tarde, e não tomar café na cafeteria da esquina, e ir ao cinema na hora vazia da tarde, lustrar o carro, preservando uma coisa antiga para ser admirada quando desfilar na rua, sem alarde, mas com um risinho orgulhoso nos lábios.