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Cansei de ser Raimunda!

Infelizes com o nome, mulheres buscam a Justiça para serem chamadas de Gabriela e Isabel, entre outros

 Raimunda tem o direito de ser feliz, segundo a Justiça de Goiás, mas andava triste. Ao reconhecer que algo a impedia de exercer a felecidade, o desembargador Itamar de Lima a autorizou, no final de setembro, a ir até o cartório resolver o problema.

“O prenome Raimunda trazia para ela uma infelicidade tão grande que fiquei sensível e autorizei a mudança. Nós viemos ao mundo apra ser felizes”, diz o magistrado.

Raimunda de Jesus Ananias Mendonça, 44, se chama agora, após a autorização, Gabriela Ananias Mendonça.

Foram três anos de espera até sair a decisão que deu à recepcionista goiana a chance de se librar do trauma criado por chatos como “Raimunda: feia de cara, boa de bunda” – reforçada em músicas como “Pequena Raimunda”, dos Raimundos.

Ao entrar com o pedido para trocar o nome, sua advogada escreveu:”É uma mulher jovem e bonita e sempre é confundida com uma senhora gorda, uma vez que o nome possui esse estereótipo”.

Ela alegou ter tido dificuldade até para conseguir emprego.”Quando perguntavam meu nome, fazia de tudo para não falar, de tanto que isso me pesava”, lembra.

Só em casos excepcionais o prenome, considerado definitivo, pode ser alterado. A troca é possível quando há erro de grafia, proteção a testemunhas de crimes ou exposição da pessoa ao ridículo.

Raimunda, que na década de 1920 era o 18º nome de mulher mais usado no Brasil e que, desde os anos 1980 não consta nem entre os 200 mais populares, segundo o bureau de informações proScore, tem entrado na última categoria.

A professora Rai Maria dos Santos Cunha, 67, nascida em Aracaju, conseguiu a troca em 2005 na Justiça gaúcha. Formada em letras, ela foi alvo de piadas de colegas da faculdade e, posteriormente, de jovens para quem lecionava.

“Quando vim para São Leopoldo, uma cidade pequena, senti horrivelmente isso [deboche] na pele. Carreguei a dor por uns cinco anos até tomar uma decisão”, conta.

O advogado Edson Oliveira dos Santos conseguiu, no Rio, a mudança do nome de uma cliente de Maria Raimunda para Maria Isabel.”O juiz argumentou que a alegação de não gostar do nome é relativa. Mas parti da premissa de dor social, que machuca. Ela tinha vergonha e ojeriza.”

Cantora gospel, Raimunda Francisca de Jesus Souza, 43, que usa o nome artístico Raimunda Príncipe, diz ainda alimentar o sonho de alterar seu prenome para Suzana.

Responsável, na juventude, por fazer o próprio registro e o dos irmãos em Fronteiras (PI), ela chegou a cogitar contrariar os pais e informar no cartório o prenome Raianne.”A minha mãe disse que não podia. Se fosse hoje, eu não teria acreditado.”

Em Goiás, Gabriela diz que guardou para si a tristeza que sentiu.”Não é de ontem que convivo com esse nome. Só o tempo irá me ajudar a superar o trauma”, diz.