Universal mostra vidas transformadas
http://youtu.be/X-XglDmGu9o
Eu sou o Antônio da Silva Neto. Capelão, jornalista, futuro advogado criminalista. Um ex-detento que se tornou diretor de presídio.
“Eu descobri o segredo dos fortes: que todos podem mudar a própria história, isso é possível”.
Tudo começou com uma tragédia
Antônio Galdino da Silva Neto nasceu no sertão da Paraíba, em Patos, onde precisou aprender a conviver com as dificuldades e escassez desde criança. Quando completou 7 anos os pais se separaram, passando a ser criado pela avó e a irmã mais velha. Faltava tudo, não havia como se alimentar direito ou mesmo estudar. Vivendo desta forma era difícil ter perspectivas de futuro.
Mas, lutando, tornou-se um policial – linha dura – que não perdoava bandidos. “Eu era um homem violento, motivado pelo clamor público e senso de justiça na época”. Até que um terrível drama aconteceu: com um disparo acidental, Silva matou a companheira. Foi condenado a cumprir quinze anos e oito meses de reclusão.
Vida na prisão
Com voz embargada Silva detalha as celas onde ficou. “Cheiro de gente, de urina, de suor, de perfume, creolina… É difícil descrever. Um calor intenso e, às vezes, quase insuportável… Celas cheias, sem espaço para locomoção ou entrada de ar. Sem falar da vontade de sair, sem poder. O desejo de comer uma comida melhor, ainda que simples… Situações possíveis a quase todos, menos para quem está atrás das grades”, simplifica.
Um minuto de silêncio, pois a emoção domina Silva. A recordação é da mãe já falecida. Enquanto esteve preso, a família não desistiu dele, principalmente ela, que mesmo idosa e sofrida, sempre apelava para a fé em busca da transformação e recuperação do filho tão querido. “Minha mãe me visitava constantemente, com muita luta, sem condições. Magra, cansada, a passos lentos. Aquilo me fazia chorar”.
O que ele viveu na prisão não é diferente do que muitos vivem atualmente. Os espaços pequenos para abrigar os presos se tornam cada vez menores, isso porque todas as unidades prisionais ou penitenciárias no país estão superlotadas, mesmo tendo como base a Lei de Execuções Penais prevendo que os detentos sejam mantidos em celas com pelo menos seis metros quadrados para cada um.
Um período que ele denomina como pesadelo. “Vivi um verdadeiro inferno dentro do presidio. Você pode imaginar! O fato de ter sido policial militar e ir conviver com as pessoas que eu prendi. O mais difícil era conseguir me manter vivo, afinal, recebia ameaças de morte constantemente”.
Uma experiência difícil de esquecer. “Lembro-me que o colchão em que dormia era velho e tinha muito mau cheiro. No pavilhão em que morava existiam 45 homens e na minha cela, 8. Na verdade quem tinha dinheiro na época comprava a cama melhor, pagava pessoas que lavavam suas roupas. Todas as roupas eram lavadas nas celas, dentro do banheiro”.
Além de todas as tristes lembranças, para ele, a pior violência que sofreu foi por parte do próprio estado, em não ter seus direitos individuais respeitados. E lamenta ter perdido tantos amigos na prisão. Muitos foram mortos pelo tráfico dentro do presídio.
Nada a perder
Por causa das muitas ameaças de morte, era preciso ficar isolado algumas vezes. E foram nestes momentos de extrema dificuldade e solidão que ele recebia a visita de voluntários da Universal (que há muitos anos desenvolvem projetos sociais em presídios e cadeias de todo o Brasil). “Eles me diziam que tinha jeito para minha vida, lembro-me muito bem, afirmavam que se eu colocasse minha fé em Deus, tudo iria mudar. Eu não tinha nada a perder, então, acreditei! Foi assim que consegui o poder de reescrever minha história”.
A perseverança foi o segredo. A vida não mudou da noite para o dia, foi paulatinamente. Ele passou a aproveitar as mínimas oportunidades, mesmo na prisão. A mudança de comportamento foi chamando a atenção dos presos, dos agentes penitenciários e do diretor. Ele que já trabalhava na cozinha e na enfermaria (cada 72 horas trabalhadas, diminuí 24 horas, ou seja, um dia de pena) passou a se dedicar cada dia mais e com grande empenho. Conquistou o respeito por parte dos companheiros e autoridades do presídio.
Hora da liberdade
Condenado a cumprir quinze anos e oito meses de reclusão, conseguiu redução para cinco anos por bom comportamento. Quando saiu era um novo homem, para uma nova vida. Em seu interior existia a certeza absoluta de que sua história seria refeita.
Em liberdade Silva Neto passou a trabalhar para a Assembleia Legislativa da Paraíba e se aplicou aos estudos. Enquanto esteve preso o maior sonho era constituir família e, ainda na prisão conheceu Rubenizia Cristina, e foi amor à primeira vista.
Caso único no Brasil
E o inimaginável aconteceu. A vida o fez voltar para o presídio. Tudo de novo? Não! Desta vez era diferente. “O governador pediu minha ajuda e resolvi atender. Fui convidado a assumir a direção do Presídio Regional de Sapé pelo Governo do estado da Paraíba que já conhecia minha história. E aceitei o desafio!”
No 5º Período do curso de Direito, atualmente o ex-detento se prepara para ser advogado criminalista. Ele explica que se emociona ao ver a transformação na vida de um reeducando. “Reeducando é a forma como chamo os homens que estão sob minha custódia. Eu tenho consideração por cada um deles. E sei que cada um dos 160 internos têm respeito e carinho por mim”.
“As autoridades hoje também confiam no meu trabalho. Nosso modelo de gestão prisional tem sido visto como referência, por isso já viajei para vários Estados da Federação para falar do nosso exemplo. Nós somos o único presídio no Brasil onde todos os reeducandos estão na sala de aula. Aprendem artesanato, também confeccionam o material de higiene usado na unidade prisional. Temos vários projetos como o cinema no presídio. Um resultado alcançado graças a muito esforço e apoio dos 34 agentes, que trabalham comigo”.
O atual diretor tem hoje uma rotina bem puxada, de muito trabalho. Acorda cedo, saindo logo para suas responsabilidades e retornando tarde para casa. Silva Neto não reclama, se sente vitorioso e atribui tudo a Deus, quem ele afirma ser a pessoa mais importante de sua vida. Depois vem a esposa, com quem está casado há 17 anos. Eles construíram uma super família, com oito filhos e sete netos. Para completar o lar, tem o cãozinho Ônix, um poodle de 4 anos que só sabe fazer trapalhadas e garantir boas risadas.
Ressocializando
Talvez por conhecer tão bem a realidade dos presídios no país é que Silva Neto tem conseguido dirigir a unidade com tanto sucesso, tornando-a modelo. Ele desabafa: “Ser um prisioneiro é ser o lixo deste mundo. Não há limites para o sofrimento. Primeiro pela situação de total abandono por parte das autoridades. Há um descaso do estado em não proporcionar politicas públicas voltadas para os menos favorecidos. E o pior, dentro das cadeias brasileiras, manter-se vivo, é o maior dos desafios”.
Antônio Galdino da Silva Neto, 46 anos, capelão, jornalista, futuro advogado criminalista. Um ex-detento que se tornou diretor de presídio. Quem poderia imaginar? “Eu descobri o segredo dos fortes: que todos podem mudar a própria história, isso é possível. Basta olhar para minha vida”.